quarta-feira, 10 de abril de 2013

Te amo espanhola!



Guerreiros são assim: valentes. Guerreiros enfrentam, combatem e vencem. Guerreiros não temem o novo, eles querem fazer o futuro. Os bons guerreiros não se derrubam com um raio somente, eles são duros na queda. No último dia 10 fez um mês que perdemos a nossa guerreira. Ela enfrentou, combateu e venceu. 

Para derrubá-la foram necessários dois raios. Todos os dois certeiros, vitais. O primeiro, foi um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que atingiu o seu centro de comunicação (a fala e a escrita). Pois ela enfrentou isso e mesmo contando com a potência enfraquecida de sua fala e de sua escrita, mostrou sua capacidade de enfrentar, combater e vencer, através do exemplo, de algumas falas recuperadas e de sua energia. 

Não basta atacar sua comunicação, pois as guerreiras têm uma energia impressionante. Aí veio o segundo raio bem no centro da energia: um câncer de pulmão para tirar-lhe a respiração, o oxigênio, a energia. Mesmo sem comunicação e com a energia diminuindo, ela enfrentou com valentia a vida, disposta a vencer, disposta a construir. 

Se você não acredita em mim, pergunte a cada um dos 16 degraus que existem em minha casa. Tudo isso sem um pio de reclamação, sem concentrador de oxigênio. Até a última hora foi assim, um exemplo de enfrentamento e combate. 

Guerreiras também morrem, mas são necessários dois raios em pontos vitais, certeiros. Temos que honrar as guerreiras. Elas nos fizeram chegar até aqui. Mas querem também que honremos sua vida e sejamos guerreiros. E nós o seremos. Te amo espanhola!


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Em campanha, Dilma deixa gestão em segundo plano


A antecipação da campanha eleitoral pela presidente Dilma Roussef (PT) é um erro grave e pode trazer conseqüências danosas para o país com reflexo direto na execução de algumas medidas administrativas propostas pelo governo.

Desde fevereiro quando viu sua reeleição ser bancada pelo ex-presidente Lula e, provavelmente orientada pelos seus marqueteiros, Dilma vem dedicando seu tempo e energia cada vez mais à agenda eleitoral em detrimento do exercício do mandato.

Entre as ações que denotam a opção da presidente pelo palanque eleitoral estão o lançamento de programas e ações do governo com caráter muito mais para a propaganda do que qualquer outra coisa.
Dilma também tem utilizado os pronunciamentos em cadeia nacional de rádio e TV para fins político-partidários. Foi assim durante o anúncio da redução do valor das contas de luz, quando fez ataques a seus adversários, criticou a imprensa e desqualificou os brasileiros que ousam discordar de seu governo.

O caráter político-partidário do pronunciamento oficial da presidente pode ser constatado, inclusive, pela substituição do brasão da República pela marca publicitária do atual governo na vinheta de abertura da “peça publicitária” veiculada em cadeia nacional durante oito minutos.

Em outro pronunciamento em rádio e TV mais recentemente, na data em que se comemorava o Dia Internacional da Mulher, a presidente anunciou de maneira oportunista a desoneração dos impostos da cesta básica. Em setembro de 2012, Dilma rejeitou proposta do líder do PSDB na Câmara à época, deputado Bruno Araújo, de zerar os impostos federais para os mesmos produtos.

Inicialmente, a desoneração da cesta básica estava na Medida Provisória 563, do Plano Brasil Maior, que, além dos alimentos básicos, retiraria tributos do Programa de Integração Social (PIS), da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). Na época, para a presidente, faltava relevância para aprovar a redução dos impostos.

Na corrida pela reeleição, até a polêmica visita a Roma para acompanhar a cerimônia de posse do Papa Francisco foi pensada como estratégia de marketing, segundo informou o jornalista Fernando Rodrigues, em seu blog na Folha. “Num primeiro momento, Dilma Roussef rejeitou a ideia de viajar a Roma para cumprimentar o novo papa. Depois, mudou de ideia. Por quê? Simples. Marketing eleitoral puro. A petista mais perderia do que ganharia se ficasse no Brasil.”, afirma o jornalista.

Esses são apenas alguns exemplos de que a corrida eleitoral para a presidente e para o PT já teve início.
Como representante do PSDB na Câmara dos Deputados, penso sinceramente que a atitude da presidente, muito mais que prejudicar seus adversários nas eleições do próximo ano, traz como conseqüência danos à sua própria administração.
É óbvio que quando se governa num ambiente tipicamente de disputa partidária todas as atitudes e medidas de um governo procuram se conciliar com o calendário eleitoral e não com um projeto de gestão responsável para o país.
Se Dilma e o PT colocaram o carro à frente dos bois com vistas a 2014, o mesmo não se pode dizer das ações de governo, que andam a passos claudicantes e vagarosos.

Cito como exemplo a proposta de terceirização dos portos encaminhada ao Congresso em forma de Medida Provisória. A iniciativa, mesmo que tardia, é importante para a modernização da atividade portuária no Brasil. Mas aqui cabe uma pergunta. A proposta será mesmo levada adiante frente aos protestos de sindicalistas ligados ao PT somado ao clima de corrida eleitoral?

Não tenho bola de cristal, mas a tendência que esses e outros projetos que poderiam significar um avanço em termos de gestão administrativa estão fadados a ser engavetados ou modificados para atender interesses pessoais e partidários.

Esse é o quadro que estamos assistindo a um ano e meio das eleições de 2014 e daqui para frente, infelizmente, a tendência é que ele se aprofunde cada vez mais. Perdem o Brasil e os brasileiros.

domingo, 3 de março de 2013

Yoani Sánchez e a liberdade


A jornalista cubana Yoani Sánchez esteve no Brasil na semana passada. Embora ela fosse conhecida em alguns meios políticos e jornalísticos era praticamente desconhecida de grande parte dos brasileiros.
Essa situação não iria mudar muito não fossem duas circunstâncias que chamaram a atenção da mídia: a ação de pequenos grupos de esquerda que com seus métodos fascistas tentaram impedi-la de falar e a suspeita de que houve orquestração entre um alto funcionário do núcleo do governo com a Embaixada cubana para tentar denegrir a sua imagem.

Essa duas circunstâncias trouxeram para um público muito maior a existência de uma blogueira dissidente cubana e suas lutas por liberdade e direitos humanos em seu país.

Na minha avaliação, como membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, a passagem de Yoani pelo Brasil serviria para conhecermos um pouco mais do “outro lado” de Cuba. Porém, quando vi uma foto de sua chegada em Recife mostrando o contraste entre a sua serenidade e a agressividade dos fascistas contra ela, percebi que sua visita tinha um significado muito maior: a liberdade.

Independentemente de posições políticas e ideológicas, a valorização da liberdade como um fim em si mesmo deve ser defendida intransigentemente. Para quem passou por restrições à liberdade de expressão durante o período autoritário pós-64, essa valorização tem uma importância ainda maior. Lembro-me da tensão que vivi como líder estudantil durante esse período. Imaginei, então, o que deve sentir Yoani Sánchez num regime totalitário e me senti no dever de apoiar sua luta. A partir de então acompanhei pela imprensa a sua passagem por Feira de Santana e Salvador onde novamente ela foi hostilizada, em grau crescente.

Durante sua passagem pela Câmara dos Deputados pude verificar pessoalmente tanto a agressividade desses grupelhos contra ela quanto a sua serenidade e segurança para enfrentar essa situação. Sua postura parecia dizer que enfrentar essas manifestações é “fichinha” para quem tem de viver num estado totalitário. A agressividade dos manifestantes contra ela me deu a impressão que era motivada por dois propósitos.

O primeiro era o de demarcar terreno. Era o de dizer a Yoani que “aqui no Brasil nós somos Cuba! Você vai se sentir aqui como se estivesse em seu país. Aqui nós estamos com Fidel! É melhor você ir para outro país porque aqui mandamos nós”.

O segundo propósito tem uma natureza mais psicológica. Era o de dizer para si mesmo que “a Yoani está errada! Se por acaso ela estiver certa, “the dream is over”, minhas crenças e meu passado estão errados! Eu preciso acreditar que ela está errada! É lógico que ela está a serviço da CIA e dos imperialistas!”

O propósito da agressividade era o de impedi-la falar para não ouvir, para não cair na tentação de cogitar que talvez Cuba possa ter os defeitos que ela denuncia. Por isso, é melhor nem ouvir. E o jeito mais fácil de fazer isso é não deixá-la falar.

Não se trata aqui de ser contra ou a favor do regime cubano. Se esse regime deve ser mantido ou não, isso é um problema do povo cubano. Porém, quando tenta se impedir que qualquer pessoa se manifeste livremente em solo brasileiro, isso é um problema nosso. Por isso, foi importante a sua passagem pela Câmara, tanto para mostrar o filme, quanto para falar livremente. Ali, os fascistas não a impediram de se expressar e os deputados e vários estudantes mostraram a ela que aqui “não está tudo dominado” e que a ideia de liberdade é um valor muito forte no Brasil.
Ela saiu da Câmara ouvindo um coro de “liberdade”, muito maior que os slogans pró-Castro.
Com relação à participação de um funcionário que, segundo a Revista Veja esteve na Embaixada Cubana para receber o dossiê contra a jornalista, creio que o governo federal nos deve uma explicação mais clara.

É inadmissível essa ingerência de outro país no governo brasileiro, principalmente, quando se trata de um tema tão caro a nós, como a liberdade de expressão.