domingo, 9 de dezembro de 2012

Um grande passo para o Brasil


O Congresso aprovou no final de novembro lei que prevê o detalhamento dos impostos pagos pelo consumidor. Uma informação preciosa e importantíssima que vai colaborar para construirmos uma sociedade mais consciente de quanto paga e do quanto recebe em serviços custeados pela sua contribuição.
Importante ressaltar que a lei aprovada agora nasceu de uma iniciativa popular. O movimento começou em 2006, quando um milhão e meio de pessoas assinaram um documento pedindo para saber quanto pagam de imposto em cada produto.

Com a nova lei, quando o consumidor fizer compras em uma loja ou supermercado vai receber nota fiscal em que aparece o valor real do produto e também quanto vai para os cofres do governo. São nove impostos embutidos nos preços das mercadorias e serviços, sendo sete tributos federais, um estadual e um municipal.

A nova lei não vai representar custos para os comerciantes e empresários. Eles terão apenas que adaptar os programas de computador que emitem a Nota Fiscal.

Mais que a necessária transparência, essa medida propicia a cada cidadão-consumidor uma reflexão racional sobre o tamanho do Estado e a consequente decisão sobre o que deve ser coletivo e o que deve ser eletivo.

Desde que me elegi deputado venho defendendo que devemos dar o máximo de informações para que o cidadão comum decida o que é melhor para o Brasil, segundo ele.

Apesar de sua equipe econômica alegar que há dificuldades técnicas para implementá-lo, esperamos que a presidente Dilma sancione o projeto que foi aprovado por unanimidade. Afinal, toda sociedade que quer se desenvolver deve ter confiança na capacidade de decisão de seus cidadãos, desde que tenham acesso às informações básicas. A tutela nos mantém no que chamo de Subdesenvolvimento Sustentável, cujos pilares principais são: alguém é responsável pelo nosso insucesso; alguém/algo virá nos salvar e há recurso para tudo, falta vontade política.

Essa simples medida propiciará que ataquemos o terceiro pilar, pois o consumidor verá que a cada compra ele estará pagando um valor de imposto que irá para o governo ao invés de ficar com ele para comprar outras coisas ou para poupar.

Com isso, ficará claro que o recurso não cai do céu nem que os projetos custeados pelos tributos são atos de bondade do governante. Uma vez destruído esse mito, os outros dois caem por consequência e teremos um país onde cada cidadão tomará suas decisões relativas ao Estado com base na realidade e na lógica e não na base da tutela.

Quando da votação do projeto eu estava na liderança da Minoria e disse que sua aprovação representava uma espécie de “Diretas Já” para o tamanho do Estado. Esse tamanho representa um dos principais temas de discussão entre partidos políticos e entre as diferentes ideologias. Porém, esse importante debate sempre esteve em nível das elites políticas e governamentais e, raramente, chegou ao nível do cidadão comum que é quem, afinal, paga a maior parte da conta via impostos.

A partir de agora, todos os cidadãos terão dados para avaliar o custo do Estado e, aos poucos, decidirão o seu tamanho de maneira direta.
Um outro impacto relevante que o projeto acarreta refere-se à eficiência dos governos. Normalmente, o eleitor considera a eficiência do gasto público como tema importante para a escolha dos governantes. Porém, como a noção da origem dos recursos é nebulosa, essa importância não é a mesma que ele dá quando está realizando diretamente uma compra.

Além disso, a corrupção sofrerá um duro golpe, pois deixará de ser uma questão somente moral e será também percebida como um verdadeiro assalto ao bolso de cada um dos milhões de contribuintes.
Tal como Mário Covas, acredito na capacidade de discernimento de nossa gente a partir do momento em que ela tenha a necessária informação. É preciso democratizar as informações para que o cidadão possa avaliar e formar seu juízo nas mais variadas relações sociais, como as de produção, consumo, contribuição, vizinhança e representação política.

domingo, 11 de novembro de 2012

Reflexões sobre o PIB brasileiro


O anúncio do Ministério da Fazenda que reduziu para 2% a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para 2012 é preocupante e merece algumas reflexões.
No início do ano, o governo chegou a trabalhar com a projeção de crescimento de 4,5%, mas reduziu-a para 3% em agosto e mais recentemente para 2%. Apesar de algumas medidas de apoio ao consumo, a economia brasileira carece de medidas estruturais. Caso contrário, teremos que nos conformar com chamados “voos de galinha”. E o pior de tudo: estamos perdendo grandes oportunidades para avançar muito mais e ano após ano desperdiçamos tempo e energia com medidas apenas paliativas.

Dois dos principais efeitos que impulsionaram a economia brasileira nos últimos anos têm perdido o seu vigor: a demanda internacional por matérias-primas provenientes do agronegócios e os minérios, bem como o crédito ao consumo. A primeira sofre os efeitos da contração do crescimento mundial, que ainda se prolongará por alguns anos. Pode não ocorrer um colapso dos preços das commodities brasileiras, mas a tendência é de que receitas de exportações e os investimentos nessa área apresentem queda nos próximos anos.

Quanto ao crédito ao consumo, as famílias brasileiras revelaram não ter mais disposição para endividamento adicional. Alguns estudos mostram que as famílias no Brasil gastam, atualmente, 30% de sua renda em juros e amortizações da dívida já assumida, proporção superior, por exemplo, à das famílias norte-americanas. Vários outros fatores já demonstram que esse estímulo do crescimento via crédito ao consumo também vai se esvaindo. Nesse contexto, não é de estranhar que a economia esteja se retraindo e que a projeção de crescimento tenha caído pela metade desde o início do ano.

Tenho reiterado em várias oportunidades que vivemos um período histórico, denominado por estudiosos de janela de oportunidades. Uma conjunção de fatores que combinam variáveis demográficas com taxas como a de natalidade e de longevidade e o final da migração da zona rural para cidades. O Brasil vive esse momento especial na economia, como outros países já experimentaram ao longo de suas histórias. Funciona em rápidas palavras assim. A taxa de dependência definida como o percentual entre “crianças e jovens entre 0 e 14 anos somada a idosos de 65 anos e mais” dividido pela “população em idade ativa: entre 15 e 64 anos”. Essa taxa define, grosso modo, quantas pessoas são sustentadas para cada 100 pessoas sustentadoras.

Em boa parte do século 20, percentual de sustentados era de 80% (em grupo de 18 pessoas, 10 sustentavam e 8 eram sustentados). Com forte queda da taxa de natalidade, temos nas primeiras décadas do século 21 redução deste número para 50% –de 15 pessoas, 5 são sustentadas e 10 sustentam.

Pode-se perceber que há um fator natural para aumento da renda per capita. Essa janela de oportunidades vai até a metade do século 21, quando teremos um aumento grande da população de idosos dependentes e, consequentemente, um aumento na taxa de dependência. Aqui, volto ao início do texto, quando disse que estamos perdendo ano após ano belas oportunidades para crescer com consistência e gerar uma “gordura” para o período das vacas magras.

Ao invés disso, registramos queda de competitividade, sobretudo nos setores de alto valor agregado. Parece-nos claro que esse modelo lulista ou petista de enxergar economia se esgotou. É necessária com urgência retomada dos investimentos governamentais para beneficiar atividade econômica no curto prazo e, no médio e no longo prazo, construir base sólida para futuras gerações.

Para isso, são essenciais mudanças na máquina governamental, com introdução de técnicas de planejamento e melhoria de sua capacidade executiva. Há possibilidades imensas nas parcerias com setor privado. Por exemplo, nos setores de hidrovias e estradas. Mas para isso se efetivar partido do governo precisa abrir mão de seus dogmas e medo de eventuais reflexos que essas iniciativas poderiam provocar nas urnas. É necessário pensar o Brasil como projeto de Nação e não como projeto de poder.

domingo, 14 de outubro de 2012

Infraestrutura e privatizações


O governo federal tem investido pouco do seu orçamento se comparado com os anos de 1970, quando o Estado era um grande investidor em infraestrutura. Na década de 1970, os investimentos chegavam a 3% do PIB, mas esse percentual caiu para menos de 1% ao longo dos anos. No governo FHC, ele era de 0,8% e no primeiro governo Lula 1 ficou em 0,7%.

No segundo governo Lula, esse número chegou a pico de 1,3% em 2010, mas em 2011 baixou para 1,2% e neste ano será bem mais baixo. O fato é que esses números são baixos e investimentos necessários em infraestrutura pública ficam prejudicados, causando sérias ‘deseconomias’ e transtornos para o Brasil e brasileiros. Felizmente, a presidente Dilma Roussef percebeu que o nível de investimentos do governo é muito baixo e resolveu enfrentar essa questão: mandou rasgar as promessas de campanha (dela e de seu antecessor) e lançou, há algumas semanas, um grande programa de privatizações na área de infraestrutura. Embora essa medida seja acertada, vem com quase 10 anos de atraso e isso prejudicou o desenvolvimento do Brasil. Quantos investimentos não foram perdidos…

Por que isso aconteceu? Por que demoraram tanto para corrigir a rota? Não creio que eles não perceberam isso logo nos primeiros anos do governo. Afinal, o ex-ministro Palocci não é ingênuo com números e ouvia ex-membros do governo FHC. O primeiro problema é que Lula ganhou as eleições satanizando as privatizações de Fernando Henrique e ficaria politicamente difícil reconhecer o erro de imediato.

O segundo problema é de ordem interna: como convencer os companheiros de viagem que o destino estava errado?
Há mais de 20 anos, quando ainda tinha ilusões socialistas, li um interessante livro do escritor Edmund Wilson chamado Rumo à Estação Finlândia. Esse livro descreve a trajetória do socialismo desde a Revolução Francesa, passando por Saint Simon, Marx, Engels e outros marxistas até chegar a Lenin. A estação Finlândia, em São Petersburgo, é o lugar aonde, em abril de 1917, chegou à Rússia para liderar o início da Revolução Socialista Soviética. Não acredito que o ex-presidente Lula e seus companheiros de viagem tinham, em 2002, alguma pretensão radical como a de Lenin. Porém, algum Socialismo a Definir estava em meta e era para lá que esses companheiros de viagem esperavam ir.

Ao longo do governo, vários companheiros e tendências perceberam que esse trem não ia para um Socialismo a Definir e desceram do trem. Porém, boa parte dos companheiros ainda acredita nisso. O problema interno é esse: como convencer os tripulantes e passageiros de que o trem não vai mais rumo à Estação Finlândia, mas sim rumo à Estação Grand Central em Nova York. Ou seja, são necessárias privatizações, contenção de gasto público, estabilidade da moeda, flutuação do câmbio, aumento da produtividade e da competitividade etc. Isso demanda grande correção de rota que acarreta perda de tempo e de desenvolvimento.

No Congresso Nacional, vejo que os mais lúcidos (que sabem ser necessária a correção de rota) procuram se esforçar para corrigir a rota. Vejo outros que, demagogicamente passando o ponto de não retorno, fazem o discurso de que o trem realmente vai para a Estação Finlândia.

Mas vejo muitos com discursos inflamados e, portanto, sinceros, acerca das privatizações (eles ainda não acreditam no que já se disse que a concessão é uma privatização que não saiu do armário), sobre a política de petróleo e gás do antigo presidente da Petrobras (que foi exonerado quando a presidente Dilma percebeu que essa política estava errada), sobre o aumento das exportações (na verdade, devido às commoditties, já que o Brasil está se desindustrializando) e sobre a política externa ‘independente’ (sic). Na verdade, faz-se política externa dita de esquerda para compensar a política econômica ortodoxa e não parecer que se é de direita.

Vendo tudo isso, fico com meus botões a pensar: é duro esperar essa turma atravessar longo século 19. Vou tentar ajudar a ser rápido. É o papel de um parlamentar da oposição.

domingo, 16 de setembro de 2012

Ação e reflexão se completam


Aprendi com a vida, com os estudos e com as leituras que quando tenho um problema de difícil solução devo verificar duas coisas: ou está faltando o esforço necessário para resolvê-lo ou está faltando o conhecimento. Na linguagem popular, às vezes é questão de força; às vezes é questão de jeito.

Refletindo sobre isso, tenho comigo que essas duas coisas são, na verdade, duas dimensões. De um lado está o campo das ações: motivação, trabalho, garra, espírito empreendedor. De outro lado, encontra-se o campo das reflexões: conhecimento, educação, curiosidade. Resumindo em duas palavras: coração e mente. Assim, acostumei-me a analisar as situações olhando para essas duas dimensões.

Quando assumi a o cargo de prefeito de São José adotei esse enfoque. Procurei disseminá-lo entre meus colaboradores e entre a população. No começo, demos ênfase especial na Educação. Eu e meus secretários visitamos quase todas as escolas: municipais, estaduais e mesmo as particulares. Cantávamos o Hino Nacional e depois havia palestra de algum profissional convidado (médico, juiz, professor e engenheiro, entre outros). Nessa conversa com a comunidade escolar, procurava-se contar a trajetória de vida desses profissionais com o objetivo de mostrar aos alunos a importância da educação. Um exemplo, na prática, para mostrar aos alunos que era possível sonhar e, o mais importante, perseguir esses sonhos.

Ainda no campo do conhecimento, procuramos melhorar as condições físicas das escolas, valorizar os profissionais da educação e ampliar a rede física, aí incluída a Fundhas. Onde houvesse oportunidade deveríamos fazer ou motivar a implantação de centros de difusão ou produção de conhecimento. Foi com base nesse pensamento que criamos e incentivamos iniciativas como o Prodec, o Cephas, cursinho pré-vestibular, incubadoras de empresas, modernização das bibliotecas e Cecompi, além do estudo do Parque Tecnológico, depois brilhantemente implantado pelo prefeito Eduardo Cury.

No campo da ação, o programa-chave foi a disseminação do espírito empreendedor que, no fundo, é a valorização do protagonismo das pessoas. Nas escolas, nas Fundhas, no Prodec, no desenvolvimento econômico. Enfim, onde era possível promovermos a importância do esforço da motivação, da procura da realização dos sonhos.

Lembro-me bem quando em 2002 iniciamos uma feira que começou com a proposta de apresentar projetos de alunos da rede municipal de ensino. Pois bem, passados 10 anos a Feira do Jovem Empreendedor Joseense é hoje uma referência nacional na área do empreendedorismo jovem. Na última edição, recebemos a visita de quase 150 mil pessoas e estamos crescendo a cada ano em número de visitantes, expositores e, principalmente, de alunos com ideias inovadoras e arrojadas.

Por esta e outras iniciativas, São José é hoje a cidade referência no Brasil em empreendedorismo. O prefeito Cury é quase “hours concours” no prêmio Prefeito Empreendedor promovido pelo Sebrae.
Se no campo da ação São José é a cidade referência no empreendedorismo, no campo da reflexão também temos muito para nos orgulhar. Cito dois exemplos que mais chamam a atenção. O primeiro é o Parque Tecnológico. Ele é considerado como modelo para as prefeituras que querem implantar parques em todo o Brasil.

O segundo exemplo são as nossas escolas de ensino fundamental. Neste ano, tivemos quatro escolas (sendo três delas municipais) entre as 20 melhores escolas públicas de ensino fundamental do Estado de São Paulo. Três escolas entre as 10 melhores. Fiquei muito feliz com esta notícia e, conversando com várias pessoas, senti que nossa população também ficou orgulhosa com este belo resultado. Pois envolveu diretamente o conhecimento e o esforço da nossa comunidade escolar: diretores, professores, funcionários e alunos.
Creio que estamos no caminho certo. Mas é preciso manter o foco nesses dois campos: a ação e a reflexão como elementos vitais para o crescimento individual e o desenvolvimento de nossa sociedade.

domingo, 19 de agosto de 2012

Economia criativa em São José


Há dois meses, a jornalista Sheila Faria escreveu interessante crônica em O VALE na qual abordava, entre outras coisas, a falta de suvenires de São José dos Campos.
Ao ler o artigo, lembrei-me que quando prefeito discuti esse assunto com várias pessoas no âmbito de um projeto mais amplo de identidade e de defesa econômica de nossa cidade.

Esse projeto era ambicioso, pois envolvia a criação de Marca Registrada (uma ideia que surgiu à época era 100% São José) associada às características de tecnologia e qualidades próprias de São José. Uma das partes desse projeto tratava do que hoje denomina-se Economia Criativa, aí incluída a produção de suvenires de São José. Como o ótimo é inimigo do bom, esse projeto, por ser ambicioso, não se concretizou.

Porém, aproveito a oportunidade introduzida pela jornalista Sheila Faria para expor essa parte do projeto. Quem vai a cidades como Aparecida, Paris, Roma e Itu, sempre volta com lembranças típicas desses lugares para presentear familiares e amigos. Há grande potencial de geração de renda associada à imagem da cidade. São panos de prato, cartões, esculturas, cartazes, miniaturas, lenços, chaveiros, bijuterias, cerâmica e muitas outras peças criativas que podem ser produzidas com motivos da cidade ou determinada região.

Essa indústria criativa torna-se cada vez maior na medida em que o poder econômico dos consumidores cresce. Ressalte-se que a indústria do turismo vem conseguindo resultados positivos ano a ano. Na Europa, por exemplo, o crescimento do turismo na Europa está contribuindo para atenuar os efeitos da crise econômica no continente, principalmente nos países mais afetados, como Grécia, Espanha, Portugal e Itália. Com esse crescimento, é óbvio que todos os envolvidos com essa cadeia comercial também aumentam seus lucros.

Nossa cidade pode explorar a produção e a comercialização dos suvenires para reforçar identidade local e gerar emprego e renda. Mas, voltando à indagação da Sheila, qual imagem mais se identifica com São José? Creio que temos muitas imagens típicas: umas mais reconhecidas por nós joseenses e por quem nos visita e outras mais conhecidas por pessoas que nos conhecem pelos meios de comunicação.

Podemos explorar várias imagens (que nos identificam) para a produção desses suvenires. No entanto, duas delas, ao meu ver, são imbatíveis: o Banhado e o setor Aeroespacial.

Para nós, joseenses, talvez o Banhado seja mais característico. Porém, para as pessoas que nos conhecem através dos meios de comunicação a imagem inequívoca talvez seja um objeto aeroespacial. Se alguém ganhar um suvenir como uma imagem de Nossa Senhora, uma Torre Eiffel, um lenço com a imagem do Coliseu ou uma caneta gigante vai se lembrar das cidades que citei acima. Acredito que se alguém ganhar uma escultura estilizada de avião (ou de algum produto aeroespacial) vai se lembrar da cidade de São José.
O campo a ser explorado é enorme. Podemos produzir os mais diversos produtos com estampas de aviões, foguetes e imagens da terra. Por que não temos bordados, rendas, chaveiros e bijuterias com esses temas? Por que não vender artefatos de aviõezinhos? Além desses suvenires, podemos desenvolver outros, fomentando criatividade joseense.

Até aqui me restringi às imagens e motivos conhecidos interna e externamente. Há, porém, muitas outras imagens e formas tanto da nossa indústria quanto do nosso comércio, da nossa arquitetura e da nossa paisagem que podem ser usadas da mesma maneira.

Cito alguns que me vêm rapidamente à memória: carros produzidos aqui, produtos da indústria farmacêutica, de telecomunicação e indústria química. A própria Serra da Mantiqueira é uma fonte de inspiração. Há toda uma parte da economia criativa que pode ser desenvolvida, gerando identidade da cidade, assim como emprego e renda.

Espero que outros consigam ter êxito em implementar e tornar realidade essas ideias. Principalmente pessoas com espírito empreendedor e criatividade, pois esse tipo de empresa não requer capital. E há demanda interna e por parte de pessoas que nos visitam.

domingo, 22 de julho de 2012

Uma São José inesquecível


São José dos Campos fará 245 anos no próximo dia 27. Por isso, peço licença ao leitor para, excepcionalmente, falar do passado e não do futuro.

Mas vou falar de um passado que vivi na cidade nos meus quase 40 anos de São José dos Campos. São reminiscências de lugares que frequentei e que já não existem mais. Os joseenses que, como eu, estão na cidade há mais tempo vão se lembrar desses lugares. Os mais novos conhecerão um pouco mais da história da nossa cidade.

Começo pelo bar do Pedro, que ficava na Rua Francisco Paes, em frente ao Quaglia e que fechou no início dos anos 80. O bar era rústico e o seu dono, o Pedro Macumba, era um nordestino bravo e respeitável que mandava os clientes embora quando chegava uma determinada hora da noite.

Sua clientela era diversificada. Ao final da tarde os clientes eram da “velha guarda”. À noite, era frequentado por gente mais nova: as esquerdas, os ‘bichos-grilos’, jornalistas, minorias, etc. Era um bar, digamos, democrático. Ali, opositores do regime militar discutiam política, sociologia, MPB e o futuro do mundo. Foi ali que entrei em contato com a política e que conheci e comecei a namorar a Juana que era, então, da esquerda radical.

Às vezes, o pessoal da ‘velha guarda’ ficava até mais tarde, proporcionando um intercâmbio entre gerações a respeito de música, política e literatura. Que saudades do Pedro Macumba, da jornalista Sueli Gonçalves, do Robertão (militante do Movimento Negro) e de tantos outros.

Outro lugar que ficou na minha memória era a Livraria Guanabara, que ficava na Praça do Sapo. Eu gostava de frequentá-la e me imaginava trabalhando ali para ter oportunidade de ler muitos livros. A livraria tinha uma imensa variedade de títulos e, sempre que sobrava uma grana, gostava de comprar livros.

Sempre que passo na Rua Rubião Júnior, sinto falta de uma livraria no centro da cidade. Outro lugar frequentado por leitores era a banca Schiamarella. Ficava na Sebastião Hummel, em frente à atual Biblioteca Cassiano Ricardo. Era uma banca bem grande e diversificada. Gostava de frequentá-la e, eventualmente, comprar novos fascículos e livros da Editora Abril.

Quando ouço a trilha sonora do filme “Exodus”, lembro-me do Cine Palácio. A música era sinal de que o filme ia começar e as imensas cortinas da tela abriam-se lentamente. Ir ao cinema era quase que uma obrigação para a juventude dos anos 70 e o Cine Palácio era um imenso e bonito cinema, que gostava de frequentar. “Tubarão”, Inferno na Torre”, “Terremoto” e “O Exorcista” faziam o cinema lotar.

Embora os lugares ainda existam, creio que já não existem mais os bailes na Associação, no Tênis Clube, no Elite e no H-13 do CTA. Tal como as baladas de hoje, os jovens da década de 70 gostavam de ir aos bailes nesses lugares. Ao som das baladas dos Beatles, Bee Gees, Johnny Rivers, Creedence, Roberto Carlos e do rock de Raul Seixas, Led Zeppelin e Deep Purple, acreditávamos que seríamos eternos jovens. (As atuais rugas do Paul McCartney contrariam essa nossa crença).

Quando se implantou o Calçadão da Rua Sete de Setembro e logo em seguida foi construído o Shopping Centro com suas lojas chiques, escadas rolantes e Boate Circus, sentíamo-nos mais modernos.
Eu, que tinha chegado recentemente de uma pequena cidade do interior, sentia-me o próprio cosmopolita: o Studio 54 de Nova York era aqui.
São José dos Campos cresceu e evoluiu muito de lá pra cá. Agora, há vários ‘centros’ nas diferentes regiões da nossa cidade.

Eles também evoluirão e alguns lugares típicos também fecharão e deixarão saudades nos seus atuais frequentadores. Como dizia Cazuza, “o tempo não para!”.

De minha parte, sinto saudades desse tempo de sonhos, de potencialidades e de identidade com São José dos Campos. Vindos da antiga Lojas Americanas, ainda ouço os acordes da música Sun do Grupo Yes nos idos da década de 1970.

Sinto que ainda viva o pretérito do futuro, mas eu tive um passado perfeito.
Parabéns e obrigado por tudo, São José dos Campos!

domingo, 24 de junho de 2012

Nova logística mundial e o Vale


O Brasil teve uma urbanização acelerada nas últimas décadas. Mudamos do campo para a cidade tal qual havia ocorrido com os países mais desenvolvidos um pouco antes.
Isso decorre do aumento da produtividade da produção agropecuária: cada vez menos gente é necessária para alimentar mais pessoas. Com isso, a população urbana (que não precisa plantar para comer) se especializa na produção de outros bens e serviços, satisfazendo novas necessidades humanas no campo e nas cidades.

Essa moderna sociedade é complexa, mas permite que possamos compartilhar a produtividade dos outros. Sem entrar na longa discussão ideológica sobre como organizar a produção e a distribuição derivadas da organização racional do trabalho, o fato é que essa moderna sociedade urbana tem aumentado a produção e o consumo de bens econômicos devidos ao aumento da produtividade das pessoas.

É importante destacar que tanto o aumento da produtividade quanto a produção e distribuição de recursos, dependeram (e dependem) da evolução das comunicações e dos transportes. São José dos Campos e o Vale do Paraíba se aproveitaram bem dessa divisão racional do trabalho e de sua localização no eixo Rio-São Paulo (boa infraestrutura em comunicação e transporte). Com isso, somos hoje um dos grandes centros de produção de bens e serviços para o Brasil. Nossa produtividade, sobretudo industrial, e nossa localização fazem com que sejamos “exportadores”: produzimos mais do que consumimos.

Mas há uma nova mudança à vista e devemos nos preparar para ela. É que esse mesmo fenômeno – a divisão racional do trabalho e da evolução das comunicações e do transporte – está fazendo com que o sistema de produção e de distribuição de bens e serviços tenha escala mundial.
É como se acabássemos de migrar para as cidades e já tenhamos que nos ‘mudar’ para o mundo. Se do ponto de vista do consumo essa escala mundial barateará os produtos, do ponto de vista da produção devemos estar atentos à nossa produtividade e logística. Se nós do Vale nos beneficiamos da nossa localização no processo da urbanização brasileira, devemos nos preocupar com nova logística mundial. Acredito que para ter uma boa logística devamos ter ‘portas’ para o mercado mundial. Assim, é de extrema importância a facilidade de acesso a portos e aeroportos internacionais. Embora estejamos relativamente pertos dos portos e aeroportos de São Paulo e do Rio, devemos nos empenhar no desenvolvimento do Aeroporto de São José dos Campos e do Porto de São Sebastião.

No caso do porto, a recém-iniciada duplicação da Tamoios é um importante passo para o seu desenvolvimento. O aeroporto, que já internacionalizamos, precisa se desenvolver e se tornar importante meio de exportação para nossos principais produtos de alto valor agregado. Essas duas ‘portas’ de entrada e de saída para o mundo nos proporcionarão importante vantagem logística no mercado mundial.
Quanto à nossa produtividade, precisamos sempre aprimorá-la, uma vez que países em desenvolvimento como China e Índia, entre outros, estão se urbanizando e serão ferozes competidores de nossa indústria. Sobretudo em razão dos baixos salários e reduzidos gastos com previdência.

Embora os principais fatores para aprimoramento de nossa competitividade dependam de ações de âmbito nacional (câmbio, burocracia, juros etc..), devemos buscar constantemente melhoria da produtividade das nossas indústrias. É importante que tenhamos em mente que, se no passado éramos competitivos através de custo de fatores (mão de obra, terreno, infraestrutura), hoje essa vantagem está com outros países. Devemos aprimorar nossa vantagem competitiva e, para tanto, é fundamental ter uma estratégia baseada na inovação, não somente de alta como de média e baixa tecnologia. Essa é uma discussão que requer um importante aprofundamento e, por isso, deixarei para um outro artigo.

Para quem tem interesse no assunto, sugiro leitura do livro “A Vantagem Competitiva das Nações”, escrito por Michael Porter na década de 1980.

domingo, 27 de maio de 2012

Todo poder aos cidadãos


Em pronunciamentos na Câmara, em palestras e em outros artigos, já falei de minha visão sobre o nefasto processo de subdesenvolvimento sustentável do Brasil. Décadas após décadas, temos acelerado esse processo, alicerçado em três pilares principais.

Para subdesenvolver um país de forma sustentável, são necessárias três condições. Primeiro, ter sempre um responsável pelo nosso insucesso. Se algo não vai bem com a gente, tendemos sempre a culpar agentes externos. Cultuamos também a figura do salvador da Pátria, que dá origem a pensamentos como “no dia em que eu acertar a mão num bom político, minha vida estará resolvida”. E, por último, uma crendice também muito arraigada. Há recursos e verbas para se fazer o que se imaginar. O que falta é vontade política.
Não tenho dúvida de que para começar a superar subdesenvolvimento e amadurecer politicamente como nação, o Brasil deve derrubar esses três pilares. Como fazer isso?

Obviamente, a população brasileira não quer esse subdesenvolvimento e somente não derruba esses dogmas por falta de informação e pela falta de interesse de nossas elites políticas em fornecer instrumentos para ‘emancipar’ os cidadãos, no sentido mais amplo do termo. Essa falta de interesse tem uma razão: se não há tutela, não se necessita de tutor.

Tenho certeza de que a população é sábia e, tendo acesso à informação, saberá por si só descobrir o caminho do desenvolvimento pessoal e, por consequência, de todo o conjunto da nação.
Insisto sempre nesta palavra: informação. Ou podemos utilizar outro termo, que agora está na moda: transparência. O sentido é o mesmo. Ou seja, nosso povo precisa de elementos para formar sua opinião e ter acesso irrestrito a dados que influenciam diretamente em sua vida.

Para não me alongar, tenho proposta concreta e em breve devo apresentá-la na forma de um projeto de lei para derrubar o terceiro pilar: “há recursos para tudo; se o poder público não faz, é porque falta vontade política”. Em minha opinião, deveríamos fornecer a cada brasileiro os custos e os benefícios dos governos, seja ele federal, estadual ou municipal. Isso pode ser feito de uma maneira relativamente simples, já adotada parcialmente em outros países da Europa e nos Estados Unidos.

Poderíamos começar discriminando, em cada produto/serviço comprado pelos brasileiros, qual o tributo e o imposto cobrado. Essa discriminação deveria ser impressa na embalagem do produto, mercadoria ou nos boletos dos serviços, de forma a ser intelectualmente honesto com os consumidores sobre qual fatia está sendo destinada ao ‘leão’.

De outro lado, o da retribuição (serviços/produtos prestados pelos governos), deveríamos discriminar o seu custo. Um sistema de contabilidade de custos bem feito pode dar essa informação ao cidadão.
Esse simples fornecimento de informações fará com que, com o passar do tempo, nossa população possa decidir com otimismo o que deve ser coletivo e o que deve ser eletivo.

Em última análise, são os cidadãos quem devem decidir, com base em informações e em seu julgamento, qual deve ser o tamanho do Estado.

Ou seja, além de ser um direito do cidadão, a transparência na informação dos tributos incidentes sobre mercadorias e serviços daria a cada brasileiro elementos para que ele possa avaliar o modelo do Estado em que vive, formulando um juízo crítico sobre o mesmo.

Ao se dar transparência a estas informações podemos aprofundar, por exemplo, um debate há muito postergado no país: a Reforma Tributária. Todos sabem que a carga tributária no Brasil é extremamente elevada, mas a maior parte da população nem sequer conhece os tributos que paga relativamente aos bens e serviços consumidos.

Quero ir mais além. Sonho com um país em que o cidadão, ao procurar um serviço público, possa ter a informação precisa do custo específico daquele atendimento. É o que me referi anteriormente sobre o custo dos governos.

Mais do que ninguém, nossa população mais simples é mestre em maximizar a eficiência e a eficácia no uso de recursos. Acreditemos, pois.

domingo, 29 de abril de 2012

O valor do capital humano


Há 38 anos, em abril de 1974, cheguei a São José dos Campos. Desde os primeiros dias pude perceber a pujança da cidade e a quantidade de migrantes que, como eu, vinham pra cá para fazer a vida. Ao longo de quase quatro décadas, essa percepção tornou-se uma convicção: São José é terra de empreendedores.
Acredito que um dos maiores ativos que nossa cidade (e região) desenvolveu é a capacidade de atrair pessoas talentosas. Hoje, as migrações diminuíram muito, mas durante os grandes ciclos migratórios experimentamos grande saldo no chamado Capital Humano.

Quando digo atração de talentos, estou me referindo a dois tipos. O primeiro, diz respeito a talentos já desenvolvidos; o segundo tipo refere-se aos talentos em potencial, ainda não desenvolvidos, mas com enorme capacidade e vontade de desenvolvê-los.

Atraímos muitos talentos através de nossas indústrias, escolas e instituições de pesquisa. São José dos Campos recebe pessoas do Brasil inteiro para estudar no ITA, no Inpe (Pós-Graduação), na Etep (curso técnico), nas nossas universidades/faculdades, nos nossos cursos técnicos e até mesmo em nossos cursos de pré-vestibular. O CTA, o Inpe e outras instituições de pesquisa atraíram (e atraem) muitos pesquisadores, tecnólogos e técnicos do Brasil e do mundo.

Nosso parque industrial trouxe pessoas com excelente formação técnica e gerencial. Nosso potencial de consumo e de serviços tem atraído ao longo do tempo excelentes empreendedores e hoje, São José dos Campos, é um grande centro comercial e de serviços.

Tão importante quanto atrair talentos desenvolvidos é despertar o interesse de talentos em potencial. Nossa cidade (e a RM do Vale) foi e é pródiga na atração de gente que trouxe a sua capacidade e força de vontade de alcançar os seus sonhos. Vi isso na GM, onde trabalhei como escriturário, no Casd Vestibulares onde fui professor e, sobretudo, por toda cidade quando fui prefeito. É impressionante a resposta positiva da nossa gente quando lhe é dada oportunidade.

Pude constatar o desenvolvimento desses talentos nos vários programas públicos que implantamos para a nossa gente mais simples: cursinho pré-vestibular, curso técnico no Cephas, empreendedores no Banco do Povo, requalificação nos Prodecs, esportistas no Bolsa Atleta, etc.

A conclusão é que São José e região souberam aproveitar bem o processo de urbanização brasileira. Porém, não podemos somente celebrar esse fato e nos acomodar nas conquistas alcançadas.
Com a queda do processo migratório, há uma tendência acentuada de diminuição da atração de talentos, já desenvolvidos e em potencial. É preciso redobrar esforços para continuarmos atraindo gente com esse perfil e também para consolidarmos os valores do empreendedorismo entre nossos filhos e netos.

Esses esforços têm sido feitos: o ITA será duplicado; o nosso Parque Tecnológico é o melhor conceituado do Brasil; há boas perspectivas de ampliação da Unesp e da Unifesp; o Hospital Regional terá forte componente tecnológico, etc. Mas, é preciso que avancemos em áreas com grande potencial. Exemplos: a nova economia criativa; o incentivo a investidores para empresas incubadas (uma espécie de “Bolsa Nasdaq” no Parque); empresas tecnológicas na área da saúde; além do reforço ao sistema de pesquisa, desenvolvimento e produção já existente.

Há esforços também sendo feitos para o desenvolvimento interno dos nossos talentos potenciais: nossas crianças são incentivadas a sonhar e a perseguir os seus sonhos; há inúmeras instituições que dão oportunidades à nossa gente. Mas, aqui, reside minha preocupação. Com o tempo, o espírito empreendedor tende a esmorecer (é aquela história de: “pai rico, filho nobre e neto pobre”).

Devemos consolidar os valores de “terra de oportunidades e de gente empreendedora”. Para tanto, proponho dois parâmetros: 1 – Toda criança será incentivada a sonhar; 2 – Se alguém não quiser perseguir o seu sonho, isso é problema dele: ele é livre! Se ele quiser persegui-lo, isso é um problema nosso, de todos. Mas sobre esse tema, trataremos em um próximo artigo. Até lá.