A situação
brasileira vem se deteriorando lentamente. A face mais aparente é a crise político-institucional expressa
pelas recentes manifestações. O que começou com um grande protesto contra o
aumento das passagens de ônibus em São Paulo ampliou-se com críticas aos gastos
com a Copa do Mundo e generalizou-se com protestos contra a política e os
políticos.
Mas além
dessa crise política há outra crise sorrateira e com desdobramentos sérios
também: a crise econômica. O baixo crescimento econômico, a ameaça de
descontrole da inflação, a desindustrialização constante e o nosso isolamento
dos grandes blocos econômicos do mundo são sinais de que temos sérios
problemas.
A situação
econômica fica mais preocupante se levarmos em conta que estamos no melhor
momento de nossa demografia (o “bônus demográfico).
O governo
tenta demonstrar que tem a situação sob controle, mas o fato é que “comemos do
almoço e comida que era para o jantar”.
O endividamento das famílias praticamente dobrou nos últimos anos, nossa
dívida bruta cresceu 7% nos últimos quatro anos, os investidores têm aumentado
sua desconfiança na economia brasileira, entre outras questões.
Essas duas
crises, política e econômica, são um sério problema para o futuro próximo do
Brasil, mas podem representar também uma janela de oportunidades para que o país
comece um novo ciclo de desenvolvimento. Onde há crise, há oportunidade de se
discutir coisas até então consideradas certas. Acredito que podemos melhorar em
muito o Brasil se aproveitarmos essa oportunidade e desconstruirmos certas
crenças que nos travam, como a falso conceito de que existe “almoço grátis”, a
sacralização/demonização da política e a subvalorização do papel dos
empreendedores.
Os governos
ajudam a difundir a ideia de que não é o dinheiro do contribuinte que paga a
conta dos “benefícios” que eles trazem à população. Eles fazem crer que
trata-se de um recurso mágico, ou seja, que há “almoço grátis”. Devemos acabar
com essa praga populista. As escolhas deverão ser feitas com parcimônia e os
gastos, com eficiência. O questionamento recente das manifestações sobre os
gastos com a Copa do Mundo é um alentador sinal de que a população se interessa
cada vez mais pelo uso dos recursos públicos.
O processo
eleitoral no Brasil virou uma espécie de vestibular para a escolha do “salvador
da pátria”. Endeusa-se um candidato e demoniza-se o adversário. Cria-se um
clima de procura de alguém para “arrumar” o País . Até o TSE nos adverte de que
temos votado de maneira errada (O voto tem consequência!) e que é preciso
encontrar o “candidato certo”. Há algo de mágico em torno nas eleições e isso é
prejudicial ao aperfeiçoamento democrático. Por trás dessa magia está o
endeusamento (e posterior demonização) do governante e do governo como se
necessitássemos de sua tutela. O processo eleitoral deveria ser simplificado
(menos tempo de campanha); as eleições deveriam ser todas majoritárias (voto
distrital para parlamentares) e os candidatos deveriam propor o que pensam e
não o que convém para ganhar as eleições.
Se o eleito
fizer o contrário do que propôs, ele deve ser impedido pelos seus eleitores,
sem maiores traumas. Para tanto, é preciso simplificar o processo eleitoral.
Com isso, as campanhas e as eleições seriam mais baratas e o processo de
impedimento seria menos traumático e, consequentemente, haveria mais eficiência
e eficácia dos governos e dos parlamentos.
Por fim,
gostaria de falar sobre o papel dos empreendedores. O mundo de amanhã será
igual ao mundo de hoje até que haja empreendedores. Se não houvesse pessoas
dispostas a sair da rotina e empreender haveria uma circularidade da vida. Não
estou falando somente da economia, mas da multiplicidade de atividades humanas.
É preciso se reconhecer que o ato de empreender, embora tenha uma motivação
individual, tem conseqüências públicas na maioria das vezes. É preciso
acreditar nas pessoas em todas as suas dimensões sociais. Uma sociedade que
valoriza cada um acaba sendo uma sociedade de todos e não vice-versa. Sou
otimista com o que vai acontecer com o Brasil. Acredito que as crises pelas
quais estamos passando servirão de alavanca para um novo país muito melhor.