domingo, 19 de agosto de 2012

Economia criativa em São José


Há dois meses, a jornalista Sheila Faria escreveu interessante crônica em O VALE na qual abordava, entre outras coisas, a falta de suvenires de São José dos Campos.
Ao ler o artigo, lembrei-me que quando prefeito discuti esse assunto com várias pessoas no âmbito de um projeto mais amplo de identidade e de defesa econômica de nossa cidade.

Esse projeto era ambicioso, pois envolvia a criação de Marca Registrada (uma ideia que surgiu à época era 100% São José) associada às características de tecnologia e qualidades próprias de São José. Uma das partes desse projeto tratava do que hoje denomina-se Economia Criativa, aí incluída a produção de suvenires de São José. Como o ótimo é inimigo do bom, esse projeto, por ser ambicioso, não se concretizou.

Porém, aproveito a oportunidade introduzida pela jornalista Sheila Faria para expor essa parte do projeto. Quem vai a cidades como Aparecida, Paris, Roma e Itu, sempre volta com lembranças típicas desses lugares para presentear familiares e amigos. Há grande potencial de geração de renda associada à imagem da cidade. São panos de prato, cartões, esculturas, cartazes, miniaturas, lenços, chaveiros, bijuterias, cerâmica e muitas outras peças criativas que podem ser produzidas com motivos da cidade ou determinada região.

Essa indústria criativa torna-se cada vez maior na medida em que o poder econômico dos consumidores cresce. Ressalte-se que a indústria do turismo vem conseguindo resultados positivos ano a ano. Na Europa, por exemplo, o crescimento do turismo na Europa está contribuindo para atenuar os efeitos da crise econômica no continente, principalmente nos países mais afetados, como Grécia, Espanha, Portugal e Itália. Com esse crescimento, é óbvio que todos os envolvidos com essa cadeia comercial também aumentam seus lucros.

Nossa cidade pode explorar a produção e a comercialização dos suvenires para reforçar identidade local e gerar emprego e renda. Mas, voltando à indagação da Sheila, qual imagem mais se identifica com São José? Creio que temos muitas imagens típicas: umas mais reconhecidas por nós joseenses e por quem nos visita e outras mais conhecidas por pessoas que nos conhecem pelos meios de comunicação.

Podemos explorar várias imagens (que nos identificam) para a produção desses suvenires. No entanto, duas delas, ao meu ver, são imbatíveis: o Banhado e o setor Aeroespacial.

Para nós, joseenses, talvez o Banhado seja mais característico. Porém, para as pessoas que nos conhecem através dos meios de comunicação a imagem inequívoca talvez seja um objeto aeroespacial. Se alguém ganhar um suvenir como uma imagem de Nossa Senhora, uma Torre Eiffel, um lenço com a imagem do Coliseu ou uma caneta gigante vai se lembrar das cidades que citei acima. Acredito que se alguém ganhar uma escultura estilizada de avião (ou de algum produto aeroespacial) vai se lembrar da cidade de São José.
O campo a ser explorado é enorme. Podemos produzir os mais diversos produtos com estampas de aviões, foguetes e imagens da terra. Por que não temos bordados, rendas, chaveiros e bijuterias com esses temas? Por que não vender artefatos de aviõezinhos? Além desses suvenires, podemos desenvolver outros, fomentando criatividade joseense.

Até aqui me restringi às imagens e motivos conhecidos interna e externamente. Há, porém, muitas outras imagens e formas tanto da nossa indústria quanto do nosso comércio, da nossa arquitetura e da nossa paisagem que podem ser usadas da mesma maneira.

Cito alguns que me vêm rapidamente à memória: carros produzidos aqui, produtos da indústria farmacêutica, de telecomunicação e indústria química. A própria Serra da Mantiqueira é uma fonte de inspiração. Há toda uma parte da economia criativa que pode ser desenvolvida, gerando identidade da cidade, assim como emprego e renda.

Espero que outros consigam ter êxito em implementar e tornar realidade essas ideias. Principalmente pessoas com espírito empreendedor e criatividade, pois esse tipo de empresa não requer capital. E há demanda interna e por parte de pessoas que nos visitam.

domingo, 22 de julho de 2012

Uma São José inesquecível


São José dos Campos fará 245 anos no próximo dia 27. Por isso, peço licença ao leitor para, excepcionalmente, falar do passado e não do futuro.

Mas vou falar de um passado que vivi na cidade nos meus quase 40 anos de São José dos Campos. São reminiscências de lugares que frequentei e que já não existem mais. Os joseenses que, como eu, estão na cidade há mais tempo vão se lembrar desses lugares. Os mais novos conhecerão um pouco mais da história da nossa cidade.

Começo pelo bar do Pedro, que ficava na Rua Francisco Paes, em frente ao Quaglia e que fechou no início dos anos 80. O bar era rústico e o seu dono, o Pedro Macumba, era um nordestino bravo e respeitável que mandava os clientes embora quando chegava uma determinada hora da noite.

Sua clientela era diversificada. Ao final da tarde os clientes eram da “velha guarda”. À noite, era frequentado por gente mais nova: as esquerdas, os ‘bichos-grilos’, jornalistas, minorias, etc. Era um bar, digamos, democrático. Ali, opositores do regime militar discutiam política, sociologia, MPB e o futuro do mundo. Foi ali que entrei em contato com a política e que conheci e comecei a namorar a Juana que era, então, da esquerda radical.

Às vezes, o pessoal da ‘velha guarda’ ficava até mais tarde, proporcionando um intercâmbio entre gerações a respeito de música, política e literatura. Que saudades do Pedro Macumba, da jornalista Sueli Gonçalves, do Robertão (militante do Movimento Negro) e de tantos outros.

Outro lugar que ficou na minha memória era a Livraria Guanabara, que ficava na Praça do Sapo. Eu gostava de frequentá-la e me imaginava trabalhando ali para ter oportunidade de ler muitos livros. A livraria tinha uma imensa variedade de títulos e, sempre que sobrava uma grana, gostava de comprar livros.

Sempre que passo na Rua Rubião Júnior, sinto falta de uma livraria no centro da cidade. Outro lugar frequentado por leitores era a banca Schiamarella. Ficava na Sebastião Hummel, em frente à atual Biblioteca Cassiano Ricardo. Era uma banca bem grande e diversificada. Gostava de frequentá-la e, eventualmente, comprar novos fascículos e livros da Editora Abril.

Quando ouço a trilha sonora do filme “Exodus”, lembro-me do Cine Palácio. A música era sinal de que o filme ia começar e as imensas cortinas da tela abriam-se lentamente. Ir ao cinema era quase que uma obrigação para a juventude dos anos 70 e o Cine Palácio era um imenso e bonito cinema, que gostava de frequentar. “Tubarão”, Inferno na Torre”, “Terremoto” e “O Exorcista” faziam o cinema lotar.

Embora os lugares ainda existam, creio que já não existem mais os bailes na Associação, no Tênis Clube, no Elite e no H-13 do CTA. Tal como as baladas de hoje, os jovens da década de 70 gostavam de ir aos bailes nesses lugares. Ao som das baladas dos Beatles, Bee Gees, Johnny Rivers, Creedence, Roberto Carlos e do rock de Raul Seixas, Led Zeppelin e Deep Purple, acreditávamos que seríamos eternos jovens. (As atuais rugas do Paul McCartney contrariam essa nossa crença).

Quando se implantou o Calçadão da Rua Sete de Setembro e logo em seguida foi construído o Shopping Centro com suas lojas chiques, escadas rolantes e Boate Circus, sentíamo-nos mais modernos.
Eu, que tinha chegado recentemente de uma pequena cidade do interior, sentia-me o próprio cosmopolita: o Studio 54 de Nova York era aqui.
São José dos Campos cresceu e evoluiu muito de lá pra cá. Agora, há vários ‘centros’ nas diferentes regiões da nossa cidade.

Eles também evoluirão e alguns lugares típicos também fecharão e deixarão saudades nos seus atuais frequentadores. Como dizia Cazuza, “o tempo não para!”.

De minha parte, sinto saudades desse tempo de sonhos, de potencialidades e de identidade com São José dos Campos. Vindos da antiga Lojas Americanas, ainda ouço os acordes da música Sun do Grupo Yes nos idos da década de 1970.

Sinto que ainda viva o pretérito do futuro, mas eu tive um passado perfeito.
Parabéns e obrigado por tudo, São José dos Campos!

domingo, 24 de junho de 2012

Nova logística mundial e o Vale


O Brasil teve uma urbanização acelerada nas últimas décadas. Mudamos do campo para a cidade tal qual havia ocorrido com os países mais desenvolvidos um pouco antes.
Isso decorre do aumento da produtividade da produção agropecuária: cada vez menos gente é necessária para alimentar mais pessoas. Com isso, a população urbana (que não precisa plantar para comer) se especializa na produção de outros bens e serviços, satisfazendo novas necessidades humanas no campo e nas cidades.

Essa moderna sociedade é complexa, mas permite que possamos compartilhar a produtividade dos outros. Sem entrar na longa discussão ideológica sobre como organizar a produção e a distribuição derivadas da organização racional do trabalho, o fato é que essa moderna sociedade urbana tem aumentado a produção e o consumo de bens econômicos devidos ao aumento da produtividade das pessoas.

É importante destacar que tanto o aumento da produtividade quanto a produção e distribuição de recursos, dependeram (e dependem) da evolução das comunicações e dos transportes. São José dos Campos e o Vale do Paraíba se aproveitaram bem dessa divisão racional do trabalho e de sua localização no eixo Rio-São Paulo (boa infraestrutura em comunicação e transporte). Com isso, somos hoje um dos grandes centros de produção de bens e serviços para o Brasil. Nossa produtividade, sobretudo industrial, e nossa localização fazem com que sejamos “exportadores”: produzimos mais do que consumimos.

Mas há uma nova mudança à vista e devemos nos preparar para ela. É que esse mesmo fenômeno – a divisão racional do trabalho e da evolução das comunicações e do transporte – está fazendo com que o sistema de produção e de distribuição de bens e serviços tenha escala mundial.
É como se acabássemos de migrar para as cidades e já tenhamos que nos ‘mudar’ para o mundo. Se do ponto de vista do consumo essa escala mundial barateará os produtos, do ponto de vista da produção devemos estar atentos à nossa produtividade e logística. Se nós do Vale nos beneficiamos da nossa localização no processo da urbanização brasileira, devemos nos preocupar com nova logística mundial. Acredito que para ter uma boa logística devamos ter ‘portas’ para o mercado mundial. Assim, é de extrema importância a facilidade de acesso a portos e aeroportos internacionais. Embora estejamos relativamente pertos dos portos e aeroportos de São Paulo e do Rio, devemos nos empenhar no desenvolvimento do Aeroporto de São José dos Campos e do Porto de São Sebastião.

No caso do porto, a recém-iniciada duplicação da Tamoios é um importante passo para o seu desenvolvimento. O aeroporto, que já internacionalizamos, precisa se desenvolver e se tornar importante meio de exportação para nossos principais produtos de alto valor agregado. Essas duas ‘portas’ de entrada e de saída para o mundo nos proporcionarão importante vantagem logística no mercado mundial.
Quanto à nossa produtividade, precisamos sempre aprimorá-la, uma vez que países em desenvolvimento como China e Índia, entre outros, estão se urbanizando e serão ferozes competidores de nossa indústria. Sobretudo em razão dos baixos salários e reduzidos gastos com previdência.

Embora os principais fatores para aprimoramento de nossa competitividade dependam de ações de âmbito nacional (câmbio, burocracia, juros etc..), devemos buscar constantemente melhoria da produtividade das nossas indústrias. É importante que tenhamos em mente que, se no passado éramos competitivos através de custo de fatores (mão de obra, terreno, infraestrutura), hoje essa vantagem está com outros países. Devemos aprimorar nossa vantagem competitiva e, para tanto, é fundamental ter uma estratégia baseada na inovação, não somente de alta como de média e baixa tecnologia. Essa é uma discussão que requer um importante aprofundamento e, por isso, deixarei para um outro artigo.

Para quem tem interesse no assunto, sugiro leitura do livro “A Vantagem Competitiva das Nações”, escrito por Michael Porter na década de 1980.