domingo, 22 de julho de 2012

Uma São José inesquecível


São José dos Campos fará 245 anos no próximo dia 27. Por isso, peço licença ao leitor para, excepcionalmente, falar do passado e não do futuro.

Mas vou falar de um passado que vivi na cidade nos meus quase 40 anos de São José dos Campos. São reminiscências de lugares que frequentei e que já não existem mais. Os joseenses que, como eu, estão na cidade há mais tempo vão se lembrar desses lugares. Os mais novos conhecerão um pouco mais da história da nossa cidade.

Começo pelo bar do Pedro, que ficava na Rua Francisco Paes, em frente ao Quaglia e que fechou no início dos anos 80. O bar era rústico e o seu dono, o Pedro Macumba, era um nordestino bravo e respeitável que mandava os clientes embora quando chegava uma determinada hora da noite.

Sua clientela era diversificada. Ao final da tarde os clientes eram da “velha guarda”. À noite, era frequentado por gente mais nova: as esquerdas, os ‘bichos-grilos’, jornalistas, minorias, etc. Era um bar, digamos, democrático. Ali, opositores do regime militar discutiam política, sociologia, MPB e o futuro do mundo. Foi ali que entrei em contato com a política e que conheci e comecei a namorar a Juana que era, então, da esquerda radical.

Às vezes, o pessoal da ‘velha guarda’ ficava até mais tarde, proporcionando um intercâmbio entre gerações a respeito de música, política e literatura. Que saudades do Pedro Macumba, da jornalista Sueli Gonçalves, do Robertão (militante do Movimento Negro) e de tantos outros.

Outro lugar que ficou na minha memória era a Livraria Guanabara, que ficava na Praça do Sapo. Eu gostava de frequentá-la e me imaginava trabalhando ali para ter oportunidade de ler muitos livros. A livraria tinha uma imensa variedade de títulos e, sempre que sobrava uma grana, gostava de comprar livros.

Sempre que passo na Rua Rubião Júnior, sinto falta de uma livraria no centro da cidade. Outro lugar frequentado por leitores era a banca Schiamarella. Ficava na Sebastião Hummel, em frente à atual Biblioteca Cassiano Ricardo. Era uma banca bem grande e diversificada. Gostava de frequentá-la e, eventualmente, comprar novos fascículos e livros da Editora Abril.

Quando ouço a trilha sonora do filme “Exodus”, lembro-me do Cine Palácio. A música era sinal de que o filme ia começar e as imensas cortinas da tela abriam-se lentamente. Ir ao cinema era quase que uma obrigação para a juventude dos anos 70 e o Cine Palácio era um imenso e bonito cinema, que gostava de frequentar. “Tubarão”, Inferno na Torre”, “Terremoto” e “O Exorcista” faziam o cinema lotar.

Embora os lugares ainda existam, creio que já não existem mais os bailes na Associação, no Tênis Clube, no Elite e no H-13 do CTA. Tal como as baladas de hoje, os jovens da década de 70 gostavam de ir aos bailes nesses lugares. Ao som das baladas dos Beatles, Bee Gees, Johnny Rivers, Creedence, Roberto Carlos e do rock de Raul Seixas, Led Zeppelin e Deep Purple, acreditávamos que seríamos eternos jovens. (As atuais rugas do Paul McCartney contrariam essa nossa crença).

Quando se implantou o Calçadão da Rua Sete de Setembro e logo em seguida foi construído o Shopping Centro com suas lojas chiques, escadas rolantes e Boate Circus, sentíamo-nos mais modernos.
Eu, que tinha chegado recentemente de uma pequena cidade do interior, sentia-me o próprio cosmopolita: o Studio 54 de Nova York era aqui.
São José dos Campos cresceu e evoluiu muito de lá pra cá. Agora, há vários ‘centros’ nas diferentes regiões da nossa cidade.

Eles também evoluirão e alguns lugares típicos também fecharão e deixarão saudades nos seus atuais frequentadores. Como dizia Cazuza, “o tempo não para!”.

De minha parte, sinto saudades desse tempo de sonhos, de potencialidades e de identidade com São José dos Campos. Vindos da antiga Lojas Americanas, ainda ouço os acordes da música Sun do Grupo Yes nos idos da década de 1970.

Sinto que ainda viva o pretérito do futuro, mas eu tive um passado perfeito.
Parabéns e obrigado por tudo, São José dos Campos!

domingo, 24 de junho de 2012

Nova logística mundial e o Vale


O Brasil teve uma urbanização acelerada nas últimas décadas. Mudamos do campo para a cidade tal qual havia ocorrido com os países mais desenvolvidos um pouco antes.
Isso decorre do aumento da produtividade da produção agropecuária: cada vez menos gente é necessária para alimentar mais pessoas. Com isso, a população urbana (que não precisa plantar para comer) se especializa na produção de outros bens e serviços, satisfazendo novas necessidades humanas no campo e nas cidades.

Essa moderna sociedade é complexa, mas permite que possamos compartilhar a produtividade dos outros. Sem entrar na longa discussão ideológica sobre como organizar a produção e a distribuição derivadas da organização racional do trabalho, o fato é que essa moderna sociedade urbana tem aumentado a produção e o consumo de bens econômicos devidos ao aumento da produtividade das pessoas.

É importante destacar que tanto o aumento da produtividade quanto a produção e distribuição de recursos, dependeram (e dependem) da evolução das comunicações e dos transportes. São José dos Campos e o Vale do Paraíba se aproveitaram bem dessa divisão racional do trabalho e de sua localização no eixo Rio-São Paulo (boa infraestrutura em comunicação e transporte). Com isso, somos hoje um dos grandes centros de produção de bens e serviços para o Brasil. Nossa produtividade, sobretudo industrial, e nossa localização fazem com que sejamos “exportadores”: produzimos mais do que consumimos.

Mas há uma nova mudança à vista e devemos nos preparar para ela. É que esse mesmo fenômeno – a divisão racional do trabalho e da evolução das comunicações e do transporte – está fazendo com que o sistema de produção e de distribuição de bens e serviços tenha escala mundial.
É como se acabássemos de migrar para as cidades e já tenhamos que nos ‘mudar’ para o mundo. Se do ponto de vista do consumo essa escala mundial barateará os produtos, do ponto de vista da produção devemos estar atentos à nossa produtividade e logística. Se nós do Vale nos beneficiamos da nossa localização no processo da urbanização brasileira, devemos nos preocupar com nova logística mundial. Acredito que para ter uma boa logística devamos ter ‘portas’ para o mercado mundial. Assim, é de extrema importância a facilidade de acesso a portos e aeroportos internacionais. Embora estejamos relativamente pertos dos portos e aeroportos de São Paulo e do Rio, devemos nos empenhar no desenvolvimento do Aeroporto de São José dos Campos e do Porto de São Sebastião.

No caso do porto, a recém-iniciada duplicação da Tamoios é um importante passo para o seu desenvolvimento. O aeroporto, que já internacionalizamos, precisa se desenvolver e se tornar importante meio de exportação para nossos principais produtos de alto valor agregado. Essas duas ‘portas’ de entrada e de saída para o mundo nos proporcionarão importante vantagem logística no mercado mundial.
Quanto à nossa produtividade, precisamos sempre aprimorá-la, uma vez que países em desenvolvimento como China e Índia, entre outros, estão se urbanizando e serão ferozes competidores de nossa indústria. Sobretudo em razão dos baixos salários e reduzidos gastos com previdência.

Embora os principais fatores para aprimoramento de nossa competitividade dependam de ações de âmbito nacional (câmbio, burocracia, juros etc..), devemos buscar constantemente melhoria da produtividade das nossas indústrias. É importante que tenhamos em mente que, se no passado éramos competitivos através de custo de fatores (mão de obra, terreno, infraestrutura), hoje essa vantagem está com outros países. Devemos aprimorar nossa vantagem competitiva e, para tanto, é fundamental ter uma estratégia baseada na inovação, não somente de alta como de média e baixa tecnologia. Essa é uma discussão que requer um importante aprofundamento e, por isso, deixarei para um outro artigo.

Para quem tem interesse no assunto, sugiro leitura do livro “A Vantagem Competitiva das Nações”, escrito por Michael Porter na década de 1980.

domingo, 27 de maio de 2012

Todo poder aos cidadãos


Em pronunciamentos na Câmara, em palestras e em outros artigos, já falei de minha visão sobre o nefasto processo de subdesenvolvimento sustentável do Brasil. Décadas após décadas, temos acelerado esse processo, alicerçado em três pilares principais.

Para subdesenvolver um país de forma sustentável, são necessárias três condições. Primeiro, ter sempre um responsável pelo nosso insucesso. Se algo não vai bem com a gente, tendemos sempre a culpar agentes externos. Cultuamos também a figura do salvador da Pátria, que dá origem a pensamentos como “no dia em que eu acertar a mão num bom político, minha vida estará resolvida”. E, por último, uma crendice também muito arraigada. Há recursos e verbas para se fazer o que se imaginar. O que falta é vontade política.
Não tenho dúvida de que para começar a superar subdesenvolvimento e amadurecer politicamente como nação, o Brasil deve derrubar esses três pilares. Como fazer isso?

Obviamente, a população brasileira não quer esse subdesenvolvimento e somente não derruba esses dogmas por falta de informação e pela falta de interesse de nossas elites políticas em fornecer instrumentos para ‘emancipar’ os cidadãos, no sentido mais amplo do termo. Essa falta de interesse tem uma razão: se não há tutela, não se necessita de tutor.

Tenho certeza de que a população é sábia e, tendo acesso à informação, saberá por si só descobrir o caminho do desenvolvimento pessoal e, por consequência, de todo o conjunto da nação.
Insisto sempre nesta palavra: informação. Ou podemos utilizar outro termo, que agora está na moda: transparência. O sentido é o mesmo. Ou seja, nosso povo precisa de elementos para formar sua opinião e ter acesso irrestrito a dados que influenciam diretamente em sua vida.

Para não me alongar, tenho proposta concreta e em breve devo apresentá-la na forma de um projeto de lei para derrubar o terceiro pilar: “há recursos para tudo; se o poder público não faz, é porque falta vontade política”. Em minha opinião, deveríamos fornecer a cada brasileiro os custos e os benefícios dos governos, seja ele federal, estadual ou municipal. Isso pode ser feito de uma maneira relativamente simples, já adotada parcialmente em outros países da Europa e nos Estados Unidos.

Poderíamos começar discriminando, em cada produto/serviço comprado pelos brasileiros, qual o tributo e o imposto cobrado. Essa discriminação deveria ser impressa na embalagem do produto, mercadoria ou nos boletos dos serviços, de forma a ser intelectualmente honesto com os consumidores sobre qual fatia está sendo destinada ao ‘leão’.

De outro lado, o da retribuição (serviços/produtos prestados pelos governos), deveríamos discriminar o seu custo. Um sistema de contabilidade de custos bem feito pode dar essa informação ao cidadão.
Esse simples fornecimento de informações fará com que, com o passar do tempo, nossa população possa decidir com otimismo o que deve ser coletivo e o que deve ser eletivo.

Em última análise, são os cidadãos quem devem decidir, com base em informações e em seu julgamento, qual deve ser o tamanho do Estado.

Ou seja, além de ser um direito do cidadão, a transparência na informação dos tributos incidentes sobre mercadorias e serviços daria a cada brasileiro elementos para que ele possa avaliar o modelo do Estado em que vive, formulando um juízo crítico sobre o mesmo.

Ao se dar transparência a estas informações podemos aprofundar, por exemplo, um debate há muito postergado no país: a Reforma Tributária. Todos sabem que a carga tributária no Brasil é extremamente elevada, mas a maior parte da população nem sequer conhece os tributos que paga relativamente aos bens e serviços consumidos.

Quero ir mais além. Sonho com um país em que o cidadão, ao procurar um serviço público, possa ter a informação precisa do custo específico daquele atendimento. É o que me referi anteriormente sobre o custo dos governos.

Mais do que ninguém, nossa população mais simples é mestre em maximizar a eficiência e a eficácia no uso de recursos. Acreditemos, pois.